Um dos carros-chefe do presidente Lula durante a presidência temporária do Brasil no G20 é a proposta de taxar as grandes fortunas de forma global, valendo para os 20 diferentes países-membros do grupo. Seria uma tentativa do líder brasileiro de angariar respaldo internacional ao que até agora não se conseguiu fazer dentro de casa? Saberemos.
Essa é uma pauta contemporânea diante das extremas desigualdades que sabemos haver em todo o mundo, mas que, na prática, parece um devaneio de um sonho de verão.
No Brasil, especificamente, a proposta de cobrar imposto dos bilionários se arrasta há mais de uma década. Aprovada há 14 anos no Congresso Nacional, o projeto de lei 277/2008, da ex-deputada federal Luciana Genro, foi acatado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados em 2010. Mas jamais saiu do papel. De acordo com o Portal da Câmara, atualmente, o projeto já tem 34 propostas apensadas.
Em recente visita ao Brasil, a economista francesa Esther Duflo, que desenvolveu pesquisa sobre a vida econômica de pessoas em situação de pobreza e vulnerabilidade – e lhe rendeu o prêmio Nobel de Economia em 2019 junto com seus colegas Abhijit Banerjee e Michael Kremer –, fez uma palestra no Sesc 14 Bis (SP) sobre ‘Adaptação Climática e Justiça Climática’.
Duflo mostrou que os mais pobres, que contribuem menos com as emissões de gases de efeito estufa, são os que mais sofrem com as consequências das mudanças climáticas. E destacou que a desigualdade que o mundo vive atualmente se manifesta nas emissões de GEE.
De acordo com a economista, um americano rico, que está na faixa superior da distribuição de renda, é responsável pela emissão de 122 vezes mais carbono do que alguém pobre que vive na África, na área de baixa renda. Ou seja, as pessoas que menos contribuem para as mudanças climáticas são as que mais padecem com suas consequências.
No Brasil, as cinco maiores fortunas somam o equivalente a US$ 60,9 bilhões – mais de R$ 300 bilhões –, de acordo com o último levantamento da revista Forbes. Estima-se que a reconstrução do Rio Grande do Sul, por exemplo, depois da catástrofe decorrente do evento climático extremo que destruiu várias cidades, fique em torno ou até supere os R$ 200 bilhões.
Além dos eventos extremos decorrentes da crise climática, extrema também é a desigualdade que o Brasil escancara para além da Faria Lima. Torçamos para que o país não demore mais quase duas décadas ou além para praticar a justiça climática dentro de casa.