Neste ano de 2024, o Dia da Sobrecarga da Terra será “comemorado” no dia 1º de agosto. Esta é uma data simbólica e que, ao mesmo tempo, merece muita atenção: é uma estimativa de quando a nossa civilização supera a capacidade da Terra de produzir ou renovar seus recursos naturais utilizados ao longo de um ano. Em outras palavras, gastaremos em 7 meses o que deveria ter sido gasto até dezembro.
Para realizar este cálculo, a organização Global Footprint Network divide a biocapacidade da Terra de gerar recursos pelo consumo de recursos naturais. Depois, multiplica-se o número pela quantidade de dias no ano.
O levantamento também mostra essa data da sobrecarga por país. O Brasil, por exemplo, chega a este limite no dia 4 de agosto, muito próximo da média mundial. Qatar e Luxemburgo são os campeões de gastos de recursos naturais, tendo ambos atingido a sobrecarga ainda no mês de fevereiro. No ritmo atual, seria necessário 1,7 planeta igual ao nosso para que essa equação ficasse equilibrada. Como não existe outra Terra, o que precisamos mudar é a nossa lógica de consumo.
Este é, de fato, um desafio imenso. Primeiro, porque temos um sistema econômico que incentiva esse mesmo consumo excessivo e o acúmulo que tanto precisamos controlar. E se não ficarmos atentos, o capitalismo consegue monetizar até mesmo esse sentimento de urgência com relação ao nosso planeta. Em outras palavras, é importante nos preocuparmos em consumir produtos que sejam mais verdes e que impactam menos o nosso planeta. Entretanto, mais do que isso, precisamos reduzir o nosso consumo. Sentir-se com a consciência mais tranquila porque adquiriu um produto mais verde é permanecer nesse mesmo ciclo vicioso que vem destruindo o nosso único lar. Consumir com consciência é bom. Evitar o consumo é melhor ainda.
Em segundo lugar, e tão importante quanto, é que precisamos falar sobre a desigualdade social. Consumimos muito mais do que o planeta consegue repor, mas, afinal, quem é esse “consumidor compulsivo”? Segundo estudo de 2022 feito pelo Banco Mundial, é improvável que o mundo consiga atingir a meta de erradicação da pobreza extrema até 2030. Estima-se que cerca de 600 milhões de pessoas ainda enfrentarão dificuldades e viverão com menos de US$2,15 por dia. Isso mostra que a concentração de capital e, consequentemente, o acúmulo de bens não é um problema de todos. Esgotamos os nossos recursos em apenas 7 meses e, ainda assim, centenas de milhões de pessoas não têm acesso ao básico.
Entraremos, mais uma vez, no cheque especial com o nosso planeta. E esta dívida já está começando a ser cobrada. Precisamos subverter a lógica do consumo. Precisamos pensar em uma nova forma de existir, menos pautada no ter e mais focada em incluir, reduzir e respeitar o lar em que vivemos.