Na primeira década dos anos 2000, o mundo enfrentou uma das maiores crises econômicas da história. Milhões de casas foram perdidas, desigualdades aumentaram e a renda caiu globalmente. Na Europa, o desemprego superou 20% em alguns países.
A crise começou em 15 de setembro de 2008, com a quebra do Lehman Brothers, tradicional banco de investimentos de Wall Street. Pouco depois, o Congresso dos Estados Unidos interveio na maior falência da história do país.
Foram necessários 18 dias para o primeiro resgate de US$ 145 bilhões, sob o argumento de que os bancos e seguradoras envolvidos eram “grandes demais para falir”. A economia global, como um dominó, provou que o dinheiro, ou a falta dele, conecta todos no planeta.
Em contraste, enquanto a crise econômica de 2008 não levou nem três semanas para ter uma resposta à altura, e consumir mais US$ 600 bilhões nos anos subsequentes para equilibrar a economia interna norte-americana, um problema global avança sem a mesma atenção há três décadas, sem receber um décimo dessa atenção dispensada.
Com um terço do total despendido pelo governo americano, seria possível alinhar o planeta ao Acordo de Paris até 2025 e demonstrar um esforço à altura que a crise climática global demanda amargamente há 30 anos.
“Os dias serão mais quentes, irá chover mais, teremos mais enchentes e secas em locais nunca imaginados”, é o cenário pactuado e parece ser o “novo normal” aceito por toda a sociedade. A mesma sociedade, que conseguiu vencer uma pandemia e dar resposta relativamente rápida vacinando quase 70% da população mundial, segue acomodada e derrotista com a ameaça do aquecimento que já é confirmado nos termômetros.
A fatura do resgate climático está prestes a vencer sem muito empenho em ser paga.
No Brasil, as inundações atípicas em Porto Alegre em 2024 e na Bahia três anos atrás se juntam à seca ainda maior anunciada para este ano na região Norte, que nunca esteve tão perto do ponto de não retorno.
Em 2012, Eduardo Galeano observou que é curioso estranharem a natureza ter direitos, enquanto a economia os possui há tempos. “Se a natureza fosse um banco, já a teriam salvado”, concluiu,
Não seria o planeta, assim como os bancos norte-americanos, “grande demais para falir”?