O estudo ‘Com sede de esperança’, lançado nesta semana pela Habitat para a Humanidade Brasil, revela que 38 milhões de mulheres brasileiras enfrentam alguma ausência relativa a serviços de saneamento básico. Só nas capitais, mais de 75 mil mulheres vivem sem um banheiro próprio, número que sobe para 2,3 milhões quando se analisa todo o país. E para cada habitação sem banheiro – 367 mil no total –, 15 moradias têm três banheiros ou mais.
O estudo aponta que 87% das brasileiras vivendo em moradias sem água fornecida pela rede geral estão no Norte e no Nordeste. Nessas regiões também vivem 77% das mulheres que não tem banheiro em casa e 72% que não possuem esgotamento sanitário.
O recorte da publicação tem um motivo: escancarar o patriarcado hídrico. Se as mulheres são as principais impactadas pela ausência de saneamento básico, são os homens que controlam, em sua maioria, as empresas de abastecimento e distribuição de água.
A falta de acesso a água encanada, saneamento básico, banheiro particular e coleta de resíduos também impacta a saúde das mulheres. E muito.
O Ministério da Saúde aponta mais de 250 doenças causadas pela ingestão de alimentos ou água contaminados. Considerando as dez principais doenças, o estudo aponta que, no total, as mulheres das capitais brasileiras que não dispõem de banheiro ficaram 35.024 dias internadas por doenças causadas ou agravadas pela falta de saneamento básico. Em dias corridos, equivale a quase 96 anos.
Essas internações ainda contribuem para o empobrecimento das mulheres. Considerando o valor do salário mínimo vigente em 2023, as internações fizeram com que as mulheres tenham deixado de ganhar até R$ 1,5 milhão.
Como são também as mulheres que concentram as tarefas domésticas e os cuidados com familiares doentes, essa perda financeira certamente é maior. Qual seria o prejuízo para as mulheres se contabilizadas todas as horas dedicadas a buscar água e a acompanhar um parente no hospital?
Atender toda a população com água tratada e coleta de esgoto demanda um investimento anual de R$ 46,3 bilhões por 11 anos, de acordo com pesquisa do Instituto Trata Brasil e da consultoria GO Associados. Se colocado em prática, pode aumentar o PIB em R$ 58,1 bilhões anualmente.
Mas os ganhos são mais do que financeiros. Pequenas melhorias que impactam a vida e as comunidades contribuem também para o bem-estar e a autoestima das mulheres, além de tornar o trabalho doméstico menos extenuante.
Enquanto da torneira aberta corre água, com sede de esperança seguem todas as milhões de mulheres que anseiam por mais dignidade.