Em 1932, as mulheres brasileiras conquistaram o direito ao voto, que só se tornou obrigatório a partir de 1965. Mas até hoje são os homens que legislam sobre os direitos das mulheres, sobre seus corpos, sobre leis relacionadas às mulheres, sem que nós participemos da discussão – pelo menos não majoritariamente. Por que as mulheres, com o poder de mudar essa realidade pelo voto, mantiveram e mantêm o status quo? E o que a homoafetividade masculina tem a ver com a falta de representatividade feminina nos espaços de poder?
Esclarecendo: homoafetividade não é homossexualidade. Homens e mulheres podem amar alguém do mesmo gênero sem sentir atração sexual. E a homoafetividade masculina sempre esteve presente, mesmo nas famílias conservadoras – que jamais aceitariam essa pecha.
Homens amam homens. Homens se divertem com homens. Respeitam homens. Protegem homens. Acolhem homens. Votam em homens. Nessa ‘broderagem’ não cabem mulheres. Ela é carregada de misoginia.
Por isso não surpreende homens abusadores em espaços de poder, ou homens agressores em espaços políticos. Por causa da socialização estruturalmente machista e misógina, arrisco dizer que grande parte dos homens são agressores em potencial. Violência física, moral, psicológica, patrimonial, política e tantas outras que afetam de forma negativa a dignidade e a saúde mental das mulheres.
Em 2023, o Supremo Tribunal Federal (STF) estava discutindo a tese da ‘legítima defesa da honra’ em casos de feminicídio. Você não leu errado: dois mil e vinte e três, há pouco mais de um ano. Na época, dos 11 ministros do Supremo, só 2 eram mulheres; agora, só temos 1 representante, Cármen Lúcia, após a aposentadoria de Rosa Weber, em setembro do ano passado.
E dos 513 deputados federais, apenas 91 são mulheres. São 422 homens legislando sobre nossas vidas. Sem falar que nem todas as mulheres estão comprometidas com nossas lutas, embora muitas defendam nossas causas.
Quando falamos sobre a importância de ter mulheres nos espaços de poder – incluindo aí prefeituras e câmaras municipais – é também sobre isso. É sobre ações e leis sobre nossos direitos e nossos corpos estarem sendo escritas por homens.
É sobre uma menina de 10 anos de idade ter seu aborto legal negado porque homens ‘religiosos’ acreditam ser mais grave a interrupção de uma gravidez consequência de um estupro de uma criança do que punir o próprio estuprador. E olha que nem estou entrando no mérito do fundamentalismo religioso patológico para onde boa parte de nossa sociedade está caminhando. Esse é assunto para outro texto.