Na segunda-feira (30/9), quando começou a oitava onda de calor de 2024 no Brasil, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, participou do evento paralelo ao G20 ‘Finanças Hoje para o Nosso Amanhã’, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. O objetivo era debater, mais uma vez, a necessidade de redirecionar investimentos e fluxos financeiros para promover a sustentabilidade ambiental e mitigar a crise climática. E se discutiu (mais uma vez) a necessidade de políticas públicas e privadas que alinhem as finanças aos desafios das mudanças do clima.
O evento reuniu nomes fortes do setor econômico e financeiro, como Armínio Fraga, ex-presidente do BC; Teresa Campello, diretora do BNDES; Rogerio Ceron, secretário do Tesouro; Carlos André, vice-presidente do Santander; e Tatiana Rosito, embaixadora do GT de Finanças Sustentáveis e Força-Tarefa Clima do Ministério da Fazenda. Todos conscientes da gravidade da crise ambiental.
Marina lembrou o óbvio (mais uma vez): a crise climática impacta diretamente a economia. Destacou que quase 50% do PIB mundial depende da natureza e que, na América do Sul, esse percentual é ainda maior, com mais de 75% da produção regional dependendo das chuvas geradas pela Floresta Amazônica. Que, no momento, enfrenta a seca mais severa de sua história.
Segundo o relatório ‘Amazônia à Beira do Colapso – Boletim Trimestral da Seca Extrema nas Terras Indígenas da Amazônia Brasileira’, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), houve um aumento de 2.000% de áreas afetadas pela seca extrema em relação ao ano passado.
A ministra lançou o termo ‘constrangimento ético’ como uma resposta à inação e ao negacionismo de indivíduos de todos os setores da sociedade diante da crise ambiental. Talvez causar constrangimento seja pouco para o momento, em que 53% dos territórios indígenas da Amazônia estão à beira de um colapso.
Com rios completamente secos, os povos da floresta sofrem uma drástica restrição no uso da água, além de grandes perdas em cultivos agrícolas. Historicamente, os povos indígenas, que correspondem a 5% da população mundial, protegem 80% da biodiversidade do planeta. Constrangimento? Eu usaria ‘vexame ético’.
“A crise climática e a desertificação exigem uma nova abordagem econômica, onde o uso do capital natural deve ter um lastro que não pode ser ultrapassado, sob pena de criar um armagedon ambiental’, disse Marina.
‘Armagedon ambiental’ me pegou mais. Reflete a realidade de um futuro não tão longínquo nem tão distópico que podemos ter se não evoluirmos de debates para ações concretas.
Lamento pesar tanto em plena sexta-feira. Mas a verdade é que não temos mais tempo – nem clima – para inação.