A biodiversidade começa a chamar a atenção do setor financeiro, refletindo uma nova etapa na agenda dos grandes bancos globais. Algumas das maiores instituições financeiras do mundo, como JPMorgan e Standard Chartered, terão representantes na COP16 da Biodiversidade, que começa na semana que vem na Colômbia. A iniciativa demonstra que o setor busca caminhos para lidar com o tema, mais amplo e complexo, depois de demonstrar já ter uma compreensão das implicações das mudanças climáticas em seus portfólios.
Se os riscos climáticos podem ser quantificados por meio de métricas padronizadas, como emissões de gases de efeito estufa, a biodiversidade apresenta um desafio distinto. Não existe uma forma simples de medir e avaliar o impacto em diferentes ecossistemas e geografias.
Em conversas com a Bloomberg Green, executivos dos maiores bancos dos EUA, Europa e Canadá admitiram que não há consenso sobre como incorporar a natureza em suas estratégias financeiras. E muitos ainda enxergam a biodiversidade mais como uma causa filantrópica do que uma oportunidade lucrativa.
No entanto, essa percepção pode estar prestes a mudar. O lançamento da Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas à Natureza (TNFD), em 2021, marcou um ponto de inflexão, ao incentivar as empresas a relatar sua pegada de biodiversidade. E em 2022, líderes globais se comprometeram a proteger 30% das terras e oceanos do planeta até 2030, estimulando o conceito de ‘natureza positiva’, com o objetivo de interromper e reverter a perda de biodiversidade.
As iniciativas colocaram a natureza no centro das discussões, impulsionando os bancos a encontrar maneiras inovadoras de levantar capital e financiar projetos voltados para a preservação. De acordo com estimativas do Boston Consulting Group (BCG), a natureza pode gerar mais de US$ 1,2 trilhão em investimentos, especialmente nos setores de produtos químicos, energia, alimentos e saúde.
A COP16 será, portanto, um evento crucial para a definição dos próximos passos. Mesmo diante das incertezas, os bancos parecem estar atentos e prontos para explorar esse novo campo. Afinal, a natureza está ganhando destaque nas agendas corporativas e governamentais, e as instituições financeiras precisarão se adaptar rapidamente para aproveitar as oportunidades.
* Gilberto Lima é produtor de conteúdo, dono da Agência Celacanto, especializado em clima e finanças sustentáveis, e parceiro da Alter Conteúdo